Pensei em postar algo bem especial pra comemorar esses singelos dezenove aninhos de existência. Mas nada é mais especial do que o carinho de quem a gente gosta, eis que aqui vai um texto lindo que ganhei de presente de alguém muito especial ...
Uma
gestação. Há exatos nove meses que conheço Emilly Britto. Comecei a falar com
ela em meados de fevereiro, mas deveria ter começado antes, já que esse ano não
é bissexto – o que me fez perder um dia inteiro de sua companhia; algo
imperdoável. Formanda fotogênica, veterana vívida e caloura cálida. Passa de
ano como ninguém. Esse já é o seu 19º. Aparenta menos de dezessete, já
vivenciou mais de vinte e dois, e quando perde as contas começa tudo de novo,
só evitando que o resultado dê dízima. Para ela não adianta nada os anos serem
infinitos se forem todos repetidos.
É bilateral:
tem dois olhos, dois braços, duas pernas, duas covinhas. Seu único erro é
possuir um só coração. Que ela corrige quando o tira do peito e o entrega para
quem o mereça; finalmente fica simetricamente perfeita. Com óculos ou sem
óculos, tanto faz, contanto que ela esteja olhando para você. Praticante da
alma do negócio, não negocia a sua alma. Conhece a sujeira do mercado
competitivo, mas isso não compete a ela. Crê que o casamento é a melhor dupla
de criação e que a criança é a melhor peça que possa ir ao ar. Vive uma vida
corrida, cujo único intervalo é o sono. E como todo intervalo, faz questão de
veicular só os melhores anúncios.
Emilly
sempre gostou de escrever, nunca se contentando com palavras fáceis, a começar
pelo seu nome. Tem dois “L’s” para forçar a língua a tocar o céu da boca –
inclusive o dos outros –, e um “Y” para que ao terminar de pronunciá-lo, o
pronunciante esteja sempre sorridente. Escreve com mais facilidade do que a
maioria lê. Não acredita num dicionário que põe Gramática antes de Talento. E
não confia numa língua marxista que prega a concordância entre as diferentes
classes. Gramaticais. É daquelas escritoras românticas, que rejeitam o
computador e escrevem à pena, apenas para valorizar o seu penar.
Sabe
escrever em verso e prosa. Sua vida é uma rima de acontecimentos. Dos livros
que lê tira o conhecimento; das histórias que vive tira a inspiração; e das
pessoas que conhece tira o seu melhor lado, seja o de dentro ou de fora, o de
frente ou de trás, o de cima ou de baixo. É íntegra. Acredita que se for para
julgar um livro, que seja pela capa porque é feio falar dos outros pelas
costas. Frequentou todas as escolas literárias. Abandonou no altar o Romantismo,
fez o Modernismo envelhecer e subverteu o Realismo até que ele retratasse a sua
realidade. Seu epitáfio é sua
dedicatória, sua certidão de nascimento é sua conclusão. Acredita que dizer
menos é dizer mais. Assim, resume toda a sua complexidade em uma única linha:
sua assinatura.
Sua altura é
gigantescamente pequena. Não precisa de salto para ser notada. E não tem
vergonha de ficar na ponta dos dedos para ver além das pessoas; até o Sol uma
hora fica encoberto pelas nuvens. Emilly é humilde. Poderia facilmente ter o
mundo aos seus pés, mas insiste em andar de ponta-cabeça. Conversa com Deus
sempre que sente vontade. São velhos amigos e vizinhos de porta. Trocam
confidências e se despedem, mas nenhum dos dois realmente vai embora. Ficam
ali, sentados na beira do sofá, esperando pelo momento em que possam se ajudar,
e se ajudar no momento em que tiverem de esperar. E é essa presença constante,
esse apoio incontestável, essa convivência incansável que você espera ter dela.
Por vários e vários meses. Por várias e várias gestações.
Por: MARCELO MARINHO
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