Metamorfose





Estão na caixinha do eterno: os passeios no parque no final da tarde, penteadeira rosa da casa de boneca, o canto primeiro do quarto, doces de vó, frutas no pé, coleção de geloucos, todos aqueles desenhos na TV, o colo fácil. Tempos de sonhos longos, mas sem raízes. Havia despreocupação, medo, timidez. Viajava nos traços pobres dos cadernos de desenho. Comprava balas de cinco centavos.

Que pelos filhos dos meus filhos não se extinga toda a simplicidade. Que redescubram as brincadeiras de roda. Que haja boneca, gude, ioiô.

Tanto mudou. Tanto tem mudado. As didáticas já não são as mesmas. As curvas vêm mais cedo. Os parquinhos nas praças estão tão empoeirados quanto os brinquedos na estante. Nossos cadernos são dispositivos móveis. Nossos afetos são digitais. Tenho medo dessas metarmofoses. Tem medo de tanto avanço pra trás. De tanta dependência do WWW.

Tenho medo da infância rasgada das páginas das vidas.

Medo do ceticismo exacerbado e a tecnologia de ponta. Muito me assusta pensar no homem máquina e na máquina homem. Tudo tão automático, tão frio e tão prático...

A food é fast. A mudança é fast. Os relacionamentos são fast. A vida ...

Paga-se as parcelas com juros de solidão, stress e sedentarismo. Mas tudo bem porque somos mais espertos, mais influentes e mais conectados. A instantaneamente das novidades faz seu ápice curto. Tudo é mais descartável, mais passageiro e mais distante.




BRITO, Emilly

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