Eram tempos difíceis no trabalho, prazos apertados,
clientes, ações e atitudes sempre urgentes. Torcia pra que fosse efêmero. Não
controlava mais suas 24hs. Os bons sonos
passaram a ser luxo. E ainda teimava como quem quer salvar o mundo a ajudar a
quem lhe pedisse. Faltava-lhe tempo, sobravam-lhe compromissos. Foi aprendendo
a dosar, mas nunca achara o equilíbrio. Esforçava-se
para ser bom filho, bom aluno, bom profissional, bom amigo e bom cidadão.
Percebia o mundo pelas cores, seu par de lupas em forma de olhos ampliava
positivamente cada cena. Tentava estar presente, cobrava muito de si. Queria
muito e lutava por isso. Andava com fé, e com o terço enrolado por entre as
mãos ou no pequeno dos bolsos, seu amuleto iria consigo onde fosse. Tinha muito
a agradecer até ali. Todas as suas conquistas, todos os seus passos, mesmo
corridos, mas sabia o quanto cada um deles o fizera crescer. Já havia se
apaixonado em outras primaveras, tinha um amor para recordar e alguns cacos de
vidro no átrio direito, mas ansiava como criança esperava presente de Natal, um
amor seu, um que as teorias de Platão não explicasse, um que não fosse tudo, mas fosse-lhe complemento.
Um alguém pra deitar o colo e contar como foi o dia, um alguém que bastasse um
olhar pra entender. Um alguém que fosse mais que um só alguém e que na chuva
não pensasse em dividir o guarda-chuva, mas que se molhasse junto. A vida ia
seguindo, o ritmo, os compromissos e os dias sempre lindos. Uma prece e uma
esperança. Só faltava o amor. Só queria o amor. Que o ache nessa crônica
subentendida.
Emilly Brito
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